quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Divina obra de arte

Poema das árvores

As árvores crescem sós. E a sós florescem.
.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio,
e vão à vida como se nada fosse.
.
As árvores não.
Solitárias, as árvores,
Exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
.
Antonio Gedeão






















Nenhum comentário: